... Edição Digital 391

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MOBILIDADE Elétrica - Roteiro turístico A N2…
mas de elétrica
parte I
Por: Fernando Pedrinho Fotos: Fernando Pedrinho e Gil Martins

De uma forma documentada, fomos os primeiros a percorrer a estrada nacional da moda numa moto elétrica. Em apenas dois dias úteis, ligámos Chaves a Faro e nas próximas edições contamos tudo sobre esta experiência inesquecível.

A ideia já andava no ar há algum tempo. “Descer” a N2 e percorrer a, porventura, estrada mais badalada do “retângulo” nacional, não só cá dentro, mas também lá fora. Alguns amigos já haviam dito querer associar-se a este projeto para a época de estio, mas a complexidade de agendas fez com que fossemos apenas dois.
 
Na verdade, já havia prometido ao meu rapaz – que se encontra lá fora a ganhar a vida como engenheiro de desenvolvimento de um carro superdesportivo, de motor V12 atmosférico e projetado pela equipa de um renomado ex-engenheiro de Fórmula 1, radicado de há muito em Inglaterra – que o faríamos numa próxima oportunidade.
 
O fator “complicar o que é simples”
 
Porém, há quem goste de tornar o que é fácil numa tarefa mais complicada, colocando a si próprio desafios a que a maior parte torceria o sobrolho. Encontro-me nesse grupo, não sei se pelo avançar da idade ou se por outra distorção de personalidade, em particular no que toca às duas rodas.
 
Desta forma, foi assim que surgiu a ideia luminosa de descer a N2 com duas motos movidas a eletrões. O problema é que teríamos um prazo muito curto para o fazer, pois o Gil tinha um casamento no fim de semana e eu só poderia recolher as motos quatro dias antes do dia da partida.
 
Mas nem tudo era mau. Na verdade, a possibilidade de rolar numa das melhores motos elétricas que o dinheiro pode comprar, com malas e tudo, dava lugar a um sorriso de orelha a orelha e uma agradável sensação de otimismo. A Energica Experia é uma ‘cross over’ com ar de maxi-trail mas montada numa ciclística desportiva exclusivamente para estrada.
 
Contudo, a segunda moto, de uma outra marca bem conhecida, acabou por não ficar disponível, pelo que nos salvou a Suzuki Burgman 650 do sogro. Ou seja, o futuro antecipado por muitos, lado-a-lado com uma tecnologia de motorização com mais de cem anos de existência.
 
Um mundo de novidades
 
A minha experiência com elétricas resumia-se a percursos citadinos e interurbanos. E se num dia fiz perto de 200 quilómetros com uma elétrica, com um carregamento pelo meio de várias horas, acho que tal ‘feito’ era o meu recorde até à data.
 
A possibilidade de passar algum tempo com o modelo que a marca italiana denomina de “Turística Verde”, ou Green Tourer como exibe nas carenagens, iria permitir- me rolar por muito mais tempo num ambiente totalmente distinto, capaz de “assustar” a mais audaciosa das elétricas. Por outro lado, havia ainda a possibilidade de validar a rede elétrica de postos de carregamento públicos, uma vez que a Experia permite “alimentar” a sua gigantesca bateria num posto de carregamento rápido, reduzindo de forma substancial o tempo necessário para a operação. Este aspeto, o tempo de carregamento, constitui o maior óbice à versatilidade de uma moto elétrica, o que as deixa, normalmente, circunscritas ao ambiente citadino.
 
Planeamento militar
 
Já sabia de antemão que esta “descida eletrificada” da Estrada Nacional 2 iria obrigar a um planeamento militar.
 
Isto porque que haveria que entender a autonomia disponível em função do andamento adotado e dos postos de carregamento que poderíamos utilizar ao longo do percurso. De preferência, com o mínimo de desvios do itinerário principal.
 
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Convirá realçar que a escolha da Energica não surgiu por acaso. Na verdade, já havia desafiado o João Nuno Cruz, diretor comercial da Moteo (importador nacional da marca sedeada em Modena) para algo ainda mais espetacular e mediático. O receio de uma autonomia insuficiente levou a que se agendasse a “aventura” para algo mais tranquilo em termos de pressão logística.
 
E lá chegou a segunda metade de agosto, com a perspetiva de uns dias de canícula que, por sorte, não se concretizaram em pleno. Mas havia ainda outra dificuldade pela frente…
 
N2 em contra-relógio?
 
O já referido compromisso com o enlace no final de semana, levava a que tivéssemos apenas três dias para uma volta de quase 2000 quilómetros, já que a partida para o ponto de arranque se faria de São Félix da Marinha.
 
A saída numa quarta-feira com céu nublado, até Chaves e com os eletrões a ‘tope’, iriam ser a primeira prova de fogo da Energica e dariam o mote para o resto da viagem. Isto porque os cerca de 180 quilómetros que separam as duas cidades seriam efetuados integralmente por auto-estrada, pois a ideia era arrancar a seguir ao almoço para a N2 e ir dormir já lá para os lados de Viseu.
 
O certo é que a Energica conseguiu chegar a Chaves com apenas uma carga, rolando a 120 km/h na primeira metade do percurso. O problema é que quando “atacámos” a Serra do Marão, a autonomia disponível – exibida no painel de instrumentos – começou a baixar de uma forma tal que seria impossível chegar ao destino flaviense sem encontrar um local de carregamento.
 
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Para complicar tudo ainda mais, as estações de serviço ao longo da A24 não estão ainda adaptadas a esta realidade mais urbana e não me restou solução que não fosse adaptar o andamento para manter uma ‘almofada’ de uns escassos 10 quilómetros de autonomia.
 
O certo é que acabou por dar e, vencido o desafio orográfico, foi sempre a regenerar até à antiga Aqua Flaviae.
 
À procura de ‘vitaminas’
 
O oitavo mês do ano é de festa por todas as terrinhas do interior e de regresso dos emigrantes, ou dos seus descendentes, às origens. Particularmente em Trás-os- -Montes, acho que metade do parque rodoviário suíço “estaciona” naquela província lusa, passe o exagero.
 
Dado o bulício que se vivia em Chaves, não foi fácil encontrar onde carregar a Experia. Foi então que começamos a descobrir e a gerir a utilização da rede Mobi.e, a empresa pública que desde 2015 assumiu a responsabilidade da gestão e monitorização da rede de postos de carregamento elétricos.
 
Nela podemos ver, basicamente, a localização, número de carregadores, potência de carregamento, tipo de tomada e a disponibilidade momentânea.
 
A possibilidade de utilizar o ‘cartão mágico’ de um dos parceiros da Mobi.E, no caso da EDP, cedido pela Moteo, facilitou de sobremaneira a viagem e evitou que tivéssemos de parar cerca de seis horas para recorrer a uma tomada caseira de 220V e utilizar o carregador para o efeito disponibilizado com a moto.
 
Afinal, mototurismo com uma elétrica começava a deixar de ser algo de quimérico.

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